11.9.09

amor

Leve, como leve pluma
Muito leve, leve pousa.
Na simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma.
Sombra, silêncio ou espuma.
Nuvem azul
Que arrefece.
Simples e suave coisa
Suave coisa nenhuma.
Que em mim amadurece.

8.9.09





eram olhares de outra hora; contém, agora doze anos. eram olhares de outra hora; que fazem sentido, agora, num pensamento outro, de outro lugar. mas tão intrínsecos os dois, que só se pode dar risada: ou de um pensar sem sentido, ou de um olhar já sabido (tão sabido).

essa imagem é gelo, também. com calma, com peso-leve (não, pena) e com coberta, quente, a-consciente, aquária; foi comprimida até cristalizar. azul;

1.9.09

21.8.09

O gelo é azul

Não seria ideia descabida abandonar o lugar comum de chamar a Antártida de "continente branco" em favor de "continente azul". Nos dias de sol, a cor se impõe em meio ao branco predominante, pois até as sombras lançadas se tingem de azul.
Há muitas e longas sombras na Antártida. O sol nunca se põe, no verão e nas altas latitudes do hemisfério Sul. Só circula sobre os 360 graus do horizonte. É o caso dos montes Patriot, na Antártida Ocidental, que ficam no paralelo 80. Aqui foi montado o acampamento da Expedição Deserto de Cristal, primeira missão científica brasileira ao interior do continente. Basta sair da barraca piramidal alaranjada, que resiste a ventos de até 200 km/h, para ser engolfado no frio de anil. A neve, claro, é branca, mas o gelo é azul. E neve, na Antártida, é apenas o passado do gelo. 
A precipitação dos flocos modestos, ao longo de milhares e milhões de anos, está na origem do manto com espessura média de 1.829 metros que cobre 99,6% do continente. Em certas regiões do platô interior, esse mando chega a 4.776 metros. 
No centro do vale da Ferradura, um semicírculo formado pelas montanhas Liberty, Independence, Marble e Patriot, o manto tem 1.300 metros. Onde foram feitas radiossondagens para estimar a camada, a profundidade mínima é de 383 metros. O significado profundo do gelo se revela em locais como Patriot. O vento que desce com estrondo das montanhas varre ou sublima os cristais, expondo o gelo azul. Esta é a cor do gelo glacial, definido pela densidade entre 0,83 g/cm3 e 0,91 g/cm3, obtida sob o peso da própria neve que se acumula. 
De qualquer ângulo que se olhe, é azul. Sob os pés, onde a superfície é horizontal e se torna quase possível caminhar com alguma segurança. À distância, nas suaves rampas que bordejam os montes, submisso ao relevo. Nas mesmas rampas, quando penetradas com motos de neve, o único meio de locomoção seguro além dos grampões para adaptar às botas. 
A depender do ângulo de incidência do sol, o aspecto é de um mar rebrilhoso, ofuscante. A superfície mostra-se toda corrugada, com miniaturas de ondas oceânicas. Sob as esteiras e esquis das motos, ou sob o metal agarrado aos pés, o gelo estala e range com vibrações quase metálicas. 
Em seus vários estágios de compactação, a neve apresenta espaços cheios de ar entre cristais. Quando alcança o estado de gelo glacial, esses poros deixam de se comunicar uns com os outros. O material resultante perde toda a permeabilidade. Por essa razão o gelo glacial permite estudar condições climáticas e ambientais do passado. O ar foi selado ali há muito tempo. Conforme a profundidade e a dinâmica da geleira de que o gelo faz parte, as bolhas isoladas do presente guardam testemunhos do ar que se respirava muito antes de ter surgido a espécie humana. As perfurações para obter esses testemunhos já alcançaram mais de 3.700 metros de profundidade. Isso equivale a uns 800 mil anos de informações sobre o passado (o Homo sapiens surgiu há prováveis 200 mil anos). A próxima meta é chegar a 4.000 metros e 1,5 milhão de anos. 
Além dos poros selados, uma característica desse sólido é que seus cristais absorvem radiação luminosa na faixa espectral do azul. O gelo é azul, assim como é azul o buraco que fica para trás quando se cava a neve superficial para retirar o testemunho glacial que ela encobre e protege. 

15.8.09